1196 - A Eterna Expectância - 17/05/2016
A
Eterna Expectância
O mundo esperado nunca é de
fato alcançado, mas sim fragmentos da construção de uma ilusão que se aproxima
dos encaixes que a realidade permite a um indivíduo prosperar em termos de
construção de uma identidade.
Você
pode criar uma ilusão que se substancia sobre a busca e/ou repousar sobre uma
estrutura que se substancia sobre a procura, ambas te levarão a um processo de
expectativa, porém a expectância que me refiro, não ancora o pensamento do
indivíduo sobre o percurso, como no caso da busca, ou sobre as variações das
notas como no caso da procura, mas numa falta que exige um complemento que faz
o seu papel de possuidor antes mesmo da conquista.
Então
sobre este vórtice de atenção se desencadeiam processos em que o limite de
atuação de uma pessoa está ancorado sobre a gestão de uma falta sem ser falta,
onde o indivíduo ignora que o objeto não esteja presente, mas que este objeto
torna-se um abstrato tangível que possui uma identidade do idealizável que está
presente dentro deste indivíduo mesmo ausente.
Na
metáfora do navegante, a expectância não é a busca e nem a procura, mas sim o
projetado de um por vir de um instante seguinte que ainda não faz parte do
real.
E se
constrói uma projeção em torno de ações que desencadeiam outras ações em que os
sinais para sua realização estão presentes sobre a nau, sobre o oceano, sobre
os movimentos das estrelas, sobre o movimento do sol e da lua.
Então
se cria um elo com um instante seguinte idealizado, não importa neste caso a
manutenção de uma rotina, mas sim a busca e a procura por uma abstração
desejante de se encontrar com este real cujos sinais indicam sua aproximação.
Seria o mesmo que fazer uma dobra sobre o horizonte e se encontrar com o seu
limiar e perceber que o sol se curva diante de si no infinito.
Parece
ser o parágrafo acima uma estrutura paradoxal, porém necessária para
compreender que este eixo de expectância nunca é atingido, senão apenas uma
aproximação lúdica da construção de uma proposição que se aproximada do real,
sem nunca nomeá-lo, devido à limitação que os processos que envolvem a
apreensão condicionam os seres e as coisas a reter fragmentos do que é
identificável como o todo e o holístico.
Essa
expectância é uma esperança de preenchimento de um vazio que não se pretende
alcançar, e se for alcançado se pretende bordeja-lo sem de fato atingir sua reentrância.
Então
na expectância o imaginário se curva infinitamente na esperança de encapsular
este vazio, mas a sobreposição deste borreamento não é eficiente ao ponto de
preencher todos os pontos necessários para a compreensão de um evento.
Então
o imaginário ao se dobrar e projetar sobre o biológico tem como consequência
direta a criação do eixo simbólico que também é incapaz de preencher todo o
vazio que se constrói na interação com o biológico, mas apenas fazer com que
uma nomeação sirva como portal de entrada para que o indivíduo passe a se
gestar como uma estrutura encadeada de instruções que permitam simplificar a
composição das ações que pretende atribuir para este corpo que é o objeto de
desejo deste indivíduo.
E a expectativa
ao fazer este borreamento barra numa identidade projetiva que atribui a outros
significantes condicionamentos que fazem interligar ações do intelecto ao mundo
idealizado, em que as estruturas que remetem as fissuras, pela falta, na
formação de uma fenda, tornam a ilusão necessária para sustentar toda a trama
formada a luz da criação de uma ilusão.
Na
metáfora do navegante é como se o objetivo não fosse chegar ao porto, mas
idealizar como seria sua chegada até ele, em que se somam os processos de
descolamento que permitiram a gestação deste encontro.
Seria
um garimpar pelo eterno real, em que o momento não absorvido possa ser
incorporado à parte que falta. E como sujeito faltante não existe outra forma a
não ser reinventar aquilo que não é possuidor para torna-la uma ilusão em que o
objetivo esteja cativo e presente, incorporado a um vazio que se ilustra uma
composição de presença.
O
desejo se constrói neste caso na passagem do ato, e no processo de atuação
pouco importa o simbolismo do caminhar, mas interessa o simbolismo de encontro
ao real, embora nunca de fato este encontro, como no caso do horizonte é
alcançado.
Se
na procura o simbolismo está envolvido com a transição, não seria de supor que
na expectância as paixões egoicas se ancoram muito mais na sobreposição de um
sentido que tem como meta possuir o objeto, que teve o seu tempo passado, por
isto o não alcance, mas que se possa reconduzir um clone para que este
desdobramento do real possa repercutir como algo realizável que possa ser
semeado, ao ser implantado na lacuna que a ideação do sujeito desejante almejou
um dia ser possuidora de um atributo.
A
expectância é fria, ou quando airada de sentimentos conduz o homem a um cataclismo
conhecido como paixão, que ao ser conduzida ao objeto transfere um apego ao
possuir que sufoca o outro ao desterro de nunca ser possuidor de fato, mas se
alegra com o desejo que renova a cada manhã quando o sol bate na janela da nau
que está à deriva, porque não importa o caminho, não importa a transição, o que
importa verdadeiramente é fabricar a ilusão que aprisiona.
Autor: Max Diniz Cruzeiro
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