54885 - I - História das Neurociências - 19/05/2018
Neurociência da Mente e do Comportamento
I – Uma Breve História da Relação entre o Cérebro e a Mente
As
neurociências buscam estudar os mecanismos da consciência e da cognição. É um
conjunto de disciplinas que juntam informações sobre o sistema nervoso.
Consciência é conhecimento ativo da expressão do mundo que se encontra
perceptivo à volta de um indivíduo, de manifestação interna, dentro do
intelecto de uma pessoa; o intelecto é formado pela memória, emoção e mente. E
cognição são os atributos de aquisição biológica, que uma vez canalizados geram
manifestação de consciência, ou seja, é o estabelecimento de um código interno
capaz de gerar estados mentais de consciência e inconsciência.
Para
a Doutora Suzana Herculano-Houzel a consciência envolve que uma pessoa
manifeste ciência de seu ambiente e da sua própria atividade psíquica, ou seja
sua própria existência, sensações e pensamentos, sendo capaz de gerar
pensamentos, volição e percepção, além de conhecer ou sentir subjetivamente
dentro de uma condição de intencionalidade e deliberação e estar atento ao
ambiente e sensível interiormente.
Já a
cognição envolve processos de aquisição de conhecimentos ou aprendizado,
sensação, percepção, volição, atenção, foco, tomada de decisão, evocação,
atividades percentuais, ...
As
neurociências são formadas a partir dos estudos das seguintes áreas:
Neuroanatomia – estudo
da anatomia do sistema nervoso;
Neurobiologia – estudo biológico
do sistema nervoso;
Neuroendocrinologia –
estudo do sistema nervoso na interação com o sistema endócrino e suas
secreções;
Neurofarmacologia –
estudo de elementos psicoativos que atuam sobre o sistema nervoso;
Neurofisiologia –
estudo da fisiologia que lida com o sistema nervoso;
Neurogenética – estudo dos
fatores genéticos de desenvolvimento neurológico;
Neurologia – estudo do
sistema nervoso e seus distúrbios;
Neuropatologia – estudo
das doenças ligadas ao sistema nervoso;
Neuropsicologia –
estudo das funções cerebrais, cérebro, e funções mentais (linguagem, memória,
percepção, ...);
Neuropsiquiatria –
estudo dos distúrbios neurológicos-psiquiátricos;
Neuroquímica – estudo da
composição e efeitos químicos dos processos do sistema nervoso pela ação de
substâncias químicas;
Neurorradiologia –
estudo do diagnóstico através de técnicas de neuroimagens em especial a
radiografia (raios X);
Neuroeconomia – estudo
da racionalização dos processos dinâmicos ligados ao sistema nervoso;
Neurociência Social –
estudo dos eventos sociais, padrões de comportamento, ligados ao funcionamento
e a dinâmica do sistema nervoso.
A
consciência como estrutura do cérebro e sistema nervoso começou a ser estudada
no século III a. C. por Herophilus (335 – 280 a. C.) e Erasistratus (c. 350 –
250 a. C.) no Egito através de estudos anatômicos. Galeno (130 – 200 d. C.)
descreveu os ventrículos como sendo o local de repouso dos espíritos humanos. No
século IV d. C. Nemésius trabalhou com a ideia de funções ventriculares que
evoluiu para caracterizar funcionalidades através do desenvolvimento de
diversos pensadores onde dos ventrículos seguiam a seguinte estrutura de
correspondências, respectivamente: (anterior – percepção; sensações; fantasia
e representação; imaginação; sensação, fantasia e imaginação; corpo estriado –sensações- vestibulum, mediana –cognição; memória;
imaginação racional e discernimento; cognição; pensamento e discernimento;
corpo caloso; e imaginação -processamento-
consistorium e posterior –memória; movimento;
retenção e recordação; memória; memória; córtex; memória e recordação -armazenamento da memória- apotheca), no qual emergiam funções
mentais a partir de três câmaras no centro do cérebro. Outras contribuições
valiosas que se seguiram foram de Leonardo da Vinci (1472-1519) em seguida de René
Descartes (1596-1650) em trabalhos anatômicos. Essas representações dos
ventrículos foram organizadas respectivamente em sete estágios de evolução do
pensamento por Nemesius, Santo Agostinho, ibn Sina (980-1037), Leonardo da
Vinci, Gregor Reisch (1427-1525), o sexto possivelmente possa ser representado
por René Descartes e o sétimo por Thomas Willis (1621-1675). Somente no século
XIX através de Franz Gall houve o rompimento da doutrina ventricular,
observou-se nesta época o vínculo das dobraduras do córtex com o despertar das
funções corticais, a porção basal e frontal do cérebro, no corpo estriado como
desencadeador da percepção e sentidos ligados ao reconhecimento da face; e a
imaginação ligada ao corpo caloso e a memória as atividades corticais. Este
avanço foi fundamental para perceber diversas funções mentais em partes
específicas do cérebro humano. A primeira postulação apontava 27 faculdades
afetivas e intelectuais, em 1810, e logo foi implementada com novas descobertas
para 35 por Spurzheim. Nesta fase gerou-se a ciência conhecida como frenologia
onde se seguiram o surgimento de métodos da neurociência experimental no
sentido de provocar deficiências específicas no cérebro de animais para
descobrir-se qual a funcionalidade de regência do órgão numa determinada área.
As pesquisas de Paul Broca (1824-1880) foram fundamentais para o
desenvolvimento atual nas neurociências, e tinha por base o estudo de lesões em
animais e seres humanos.
Fridrich
Goltz (1834-1902) no estudo das lesões buscou identificar a localização das
funções cerebrais. Se seguiu também o trabalho de Hermann Munk (1839-1912) que
se concentrou no estudo da visão para localizar a funcionalidade no córtex
occipital. David Ferrier projetou seus estudos sobre a tentativa de descoberta
da localização dos engramas específicos a fim de obter a localização precisa da
memória e do intelecto.
Karl
Lashley (1890-1958) e John Watson (1878-1958) através do Behaviorismo estudaram
a memória e o aprendizado. Onde a continuidade dos trabalhos anexou os estudos
de Shepherd Franz (1874-1933) juntos postularam a existência de leis de
funcionamento cerebral como a equipotencialidade
(capacidade de uma área funcional desempenhar sem perda de eficiência funções
normais ao qual o órgão fora projetado). Outra lei é da ação de massa (onde postula que a eficiência é proporcional a parte
do órgão que está funcional e que não opera em regime de lesão dentro do
cérebro).
Então
nascia uma corrente ligada a psicologia que percebia processos de integração
das funcionalidades dos órgãos em um desenvolvimento holístico do sistema
cerebral que permitia explicar, por exemplo, a memória e a mente humana.
Também
muito contribuiu para o avanço das neurociências Santiago Ramón y Cajal
(1852-1934) mostrou um cérebro segmentados em diversos órgãos anatomicamente
com estruturas que despertavam funcionalidades diferenciadas. Em 1839 Theodor
Schwann (1810-1882) ao apresentar a formação dos seres vivos como indivíduos
que se consorciam celularmente, através do uso de corantes, como hematoxilina e
carmina, permitiu uma outra visão sobre a constituição dos corpos.
Em
1872, Camillo Golgi (1843-1926) fez estudos histológicos sobre a acumulação de
materiais no interior das células. Ele era um grande defensor da teoria
reticular que postula que o sistema nervoso é um emaranhado de células anastomosadas
na forma de fios.
A
Teoria Neuronal se seguiu a teoria reticular onde as células são percebidas
como estruturas individualizadas que sofrem especialização de acordo com a
parte específica do sistema nervoso onde ela se encontra, que passam por um
processo de organização segundo a sua função em partes específicas do cérebro,
gerando complexidade funcional.
Korbinian
Brodmann (1868-1918) identificou 52 áreas diferentes que até hoje ainda são
válidas (2018) que correspondem a áreas funcionais específicas.
Charles
Sherrington (1857-1952) nomeou os espaços entre as células nervosas como
sinapses e outro de seus grandes estudos foi o trabalho com o mecanismo dos
movimentos reflexos, objeto de descoberta de Marshall Hall (1790-1857) que são
movimentos que independem a ação cerebral e do tronco encefálico (movimentos de
deglutição, espirro, tosse e vômito). Logo se identificou o arco reflexo que é
o movimento realizado a partir de um circuito sensorial. John Hughlings
(1835-1911) acreditava que as faculdades mentais eram formadas pela associação
entre uma impressão e uma resposta (reflexo).
A técnica de microestimulação do cérebro que
se seguiu avançou os estudos das neurociências experimental para as
estimulações comportamentais provocadas pela estimulação elétrica. E tem como
expoentes: Galvani (1737-1798), Gustav Fritsch (1838-1927); Eduard Hitzig (1838-1907);
Harvey Cushing (1869-1939) e Wilder Penfield (1891-1976).
Richard
Caton (1824-1926), em 1875 descobriu as regiões cerebrais responsáveis pela
visão. Confirmada em 1890 por Adolf Beck (1863-1942) por meio de respostas
elétricas ativadas através dos sentidos da ordem de microvolts. Hans Berger
(1873-1941) estudou a energia orgânica na forma de energia psíquica no cérebro,
que foi possível perceber ondas de 10 ciclos por segundo chamadas de alfa que
permitiam o surgimento de ondas menores e mais rápidas integrais chamadas de
beta. Em 1936 se descobriu ondas do tipo delta de característica lenta de 1 a 4
ciclos por segundo e de 3 vezes mais amplitude que a onda alfa, que foram
associadas a um estágio de adoecimento, na localização de tumores e abscessos.
Ondas de 14 ciclos foram observadas no momento de transição entre vigília e
sono.
A
consciência como sinônimo de mente ativa fora descoberta em estudos de
encefalograma por Horace Magoun (1907-1991) e Giuseppe Monuzzi (1910-1986)
sobre o sistema reticular do tronco encefálico (1950). Herbert Jasper
(1906-1999) aprimorou o uso de microelétrodos de tungstênio para uso em
eletroencefalograma a fim de explorar o cérebro humano para doenças como o Parkinson.
O
avanço permitiu a criação de mapas funcionais sofisticados. Em 1970
descobriu-se a existência de células gnósticas. Em 1972 Charles Gross e Carlos
Eduardo Rocha-Miranda fizeram descobertas sobre a teoria da célula da vovó.
Yves
Delage propôs em 1919 um princípio de sincronização da atividade nervosa,
explicada em 1974 por Peter Milner na forma de frequência gama (40 Hz). Em 1940
Wolf Singer via a ideia da sincronização como um processo de formação e identificação
de um objeto, através de agrupamento percentual.
Em
1990 técnicas de visualização dinâmica do funcionamento cerebral tornaram-se
disponíveis para o estudo do funcionamento cerebral. Em que um de seus expoentes
é Seymour Kety (1915-2000). Em 1970 surgiu a tomografia por emissão de
pósitrons. Nos anos 1980 surgiu a ressonância magnética.
Antônio
Damasio (1944- ) graças as novas técnicas de imagiamento funcional estudou os
processos de interação entre o corpo e o cérebro; bem como os aspectos relacionados
a manifestação do sentir da emoção. Estudou o self e a consciência. O
proto-self e o self central. E a própria formação do cérebro autobiográfico.
Autor: Max Diniz Cruzeiro
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