Laisse: Me Ensina a Te Amar [Romance IV] 

Derivei em sensações que cultivava o seu desprezo enquanto o que eu apenas queria era chamar sua atenção para as profundas transformações que sua influência estava fazendo dentro de mim. 

Queria me libertar de tudo que me aprisionasse. Como uma adolescente rebelde deseja tirar tudo o que era preceito por parte dos mais velhos para finalmente instalar minha personalidade, não que eu não a tivesse mais, mas que estava adormecida dentro de uma redoma de cristal encapsulada dentro de teu ego. 

Lutei com todas as forças para tentar reconhecer que eu fui a grande culpada em seguir o desejo de uma cultura que entrelaçava meus pensamentos entre estímulos que me guiavam sempre a ser paciente e agir conforme a vontade daquele que comandava nossos destinos. 

Mas será que eu estava errada? Creio que era uma parte de mim que reagia, e ora era uma parte dele que me dominava os sentidos. Eu queria ser amada, mas estava mais amarga a cada dia que se passava. 

Como posso desejar a algo e não ser capaz de demonstrar o que sinto? O eterno conflito que se avizinhava de mim sempre que se chegava os instantes próximos do efeito em que o corpo prepara a mulher para virilidade. Me sentia guardiã de um ensinamento que fora herdado de minha mãe pela minha avó e fora passado de geração para geração até que se concentrasse em mim a necessidade de afirmação do que sinto, do que sou, do que posso vir a ser e do potencial que sou capaz de realizar por meio de minha determinação como mulher. A fêmea de um rebanho que tem voz, que tem persistência, que tem perseverança de propósito, que determina o equilíbrio entre o que deve ou não ser dito, ou consumido, ou digno de um retórica para o bem compartilhamento de uma relação sólida e coesa. 

As vezes me questiono se faltou pulso. Se o pulso não seria um afronta ao édipo do masculino quando interagisse com a figura do macho alfa indefeso diante de uma situação em que não houve previsibilidade social de sua ocorrência em um mundo dominado pelo pensamento dominador do masculino sobre o feminino. 

O que seu sempre precisei foi de uma oportunidade para expor o que eu sinto, e não apenas ser interpretada pelo ego de quem me controla como um processo de descompasso em relação à preparação do corpo para um período fértil. 

Talvez a falta de oportunidade tenha surgido pelo fator controlador do homem sobre a psique da mulher. Em que o homem é capaz de antever a crise e tenta contornar até que os fatores voltem a fluir de forma ordeira como sempre. 

E novamente estou aqui com os meus "achismos" as minhas "verdades" a minha "corpulência" que desenvolvo seguidas noites sem que uma causa concreta e definida tome conta de mim. 

E este rompente me transforma em um incógnita que despeja toda minha insatisfação em cima de quem se aproxima. E esta manifestação me afasta ainda mais do meu querer bem... porque é insensato, por não ser digno e por afetar o equilíbrio do que se simula estar certo estando convencionalmente errado, pois é sensato para o grupo, porém cruel para com minha psique. 

Queria ter tido a oportunidade de assumir meus erros na parcela de culpa que me cabe, e não na parcela de culpa em que me fui induzida a levar como um comportamento em que se realça dos defeitos. 

Essa é a parte do meu desabafo, da minha angústia. Em mim aparenta que os bons momentos foram mais duradores, nobres e mais intensos que os momentos ruins. Porém como podem os momentos ruins terem afetando tanto o nosso relacionamento? 

Se tivesse tido a oportunidade de expor os meus pontos de vista talvez seria vista não como uma interprete se si mesmo sobre nossa relação, mas como um ser pensante capaz de argumentar e ter uma cadência lógica que conquiste um espaço em que se permutam vontades, em que se permutam intensidades de ações, em que se permutam desejos e informações um do outro que devem ser mapeadas para a realização de um feed back positivo mais intenso à medida que o amadurecimento da relação torna o casal mais equânime. 

A sociedade está sempre a cobrar um posicionamento, uma conduta ética entre aqueles que se relacionam,  e também existe a cobrança interna de um para com o outro que se faça respeitar as leis estabelecidas pelo pacto social. 

A pressão surge como um elemento dissociante. Em que a princípio a necessidade primária de resgatar o relacionamento se torna secundária e a prioridade passa a ser aparar as beiradas para que a sociedade vislumbre o casal como um ente perfeito cuja regra social e ele imputado lhe confere um status de nobreza e perfeição social. 

Nada se pode imputar de intervenção sobre a família. E os elementos desagregadores que invadem o seio familiar são percebidos por toda a sociedade como indesejáveis ao convívio social. 

Por isto quando o interesse de um pelo outro se perde na armadilha da vida, e novas pessoas se aproximam do casal e o interesse correlato é despertado por parte do par frustrado, logo a sociedade quando toma conhecimento do fato fica a favor da parte lesada. 

Muitas impropriedades aconteceram em nossas vidas. Hoje olhando de forma percebo que complicamos algo que era simples... para envolver terceiros em nossas discórdias que eram fácies de se resolver. 

O ciúmes se alastrou como algo que se pregasse na testa. Em que o senso do ridículo estava estampado para que todos da sociedade pudessem visualizar como uma vergonha que não mais podia ser reparada. 

Quantos anos mais levarão para consertarmos nossa infância reprimida? Quantos anos mais serão necessários para corrigirmos todos os defeitos e encaminhar para uma vida mais madura sem que com isto tenhamos que buscar artifícios para nos magoar e para nos agredir? 

Por isto muitos casais estão sempre em fuga. Eu fugia para os filmes, para as novelas, para o teatro. E ele fugia para os encontro com os amigos, para o futebol aos finais de semana e para o jogo cibernético quando achava necessário. 

Éramos potenciais de ação que não catalisávamos nossa vida para algo útil e nos restavam quando estávamos juntos recorrer as nossas histórias de quando ainda nem nos conhecíamos como se para justificar uma vida de que tínhamos saudades pela inocência de nossas atribuições como pessoas sem compromisso de contas financeiras e gestão de compromissos de trabalho e educação. 

Tudo agora fazia sentido para o nosso precoce amadurecimento. Isto reforçava ainda mais a minha tese de que somos desde infância preparados para o fracasso como se este fracasso dependesse que nos apreendêssemos como uma lição escolar de que algo precisaria mudar para que nossa felicidade fosse plena. 

Não porque meu relacionamento tivesse se convertido "nisto" que sou hoje, mas que em observar minhas amigas vejo recorrências de histórias que são apenas interpretadas por homens e mulheres diferentes e que acabam quase sempre sobre os mesmos conflitos, os mesmos enredos e as mesmas dificuldades em que todos passam. 

Às vezes penso que falta algum elo entre a família, a sociedade, a comunhão do espírito e as amigas que repassasse o ensinamento de quem conseguiu fugir desta armadilha e encontrar uma vida a dois em que o casal se sustente por toda uma existência. 

Onde estará este elo perdido? Quando os verdadeiros amantes exporão para o mundo o segredo de uma vida a dois em que funcione como uma métrica perfeita para toda a sociedade? Será mesmo o segredo manter livre da cobiça do popular uma união duradoura e estável? 

Eu só queria que você enxergasse o qual fácil é Me conquistar, por que foges da felicidade?